Um gesto simples, mas cheio de significado: descubra por que é que juntar os lábios com alguém pode ser tão importante — e, às vezes, até biologicamente estratégico.

É difícil imaginar um filme de romance sem uma cena de beijo. É quase impossível recordar um primeiro encontro memorável sem mencionar se houve ou não um beijo no final. Apesar de ser um ato aparentemente simples, o beijo é, na verdade, um fenómeno complexo, entrelaçado com biologia, cultura, emoção e até estratégia evolutiva. Mas, se parar para pensar: por que é que os humanos, entre poucas espécies no planeta, decidiram que encostar a boca à de outra pessoa é uma boa ideia?

A resposta não é tão óbvia como parece — e vai muito além de "porque é agradável".

 

1. Nem todos se beijam — e isso é normal

Contrariamente ao que se possa pensar, o beijo romântico não é uma norma universal. Um estudo que analisou 168 culturas revelou que apenas 46% delas praticam o beijo como forma de intimidade romântica. Em algumas sociedades, aproximar-se assim de outra pessoa pode ser considerado estranho, ou mesmo inapropriado. O beijo tende a ser mais comum em culturas com estruturas sociais mais complexas e onde a higiene oral é valorizada. Em locais onde as pessoas usam mais roupas, o rosto torna-se uma das poucas zonas de contacto pele com pele disponível — e o beijo surge como uma forma natural de preencher esse desejo de proximidade.


2. Uma herança dos primatas?

A origem do beijo pode estar mais ligada à alimentação do que ao amor. Alguns cientistas acreditam que o comportamento surgiu como uma forma de partilha de alimento: mães que pré-mastigavam comida e a passavam diretamente à boca dos filhotes. Esse hábito ainda é observado em várias espécies de primatas. Com o tempo, esse gesto de cuidado pode ter evoluído para algo mais simbólico — e, eventualmente, romântico.


3. Um teste biológico disfarçado de romance

Beijar não é só sobre emoção — é também um exame silencioso. A saliva contém hormonas e informações genéticas que podem revelar a compatibilidade do sistema imunitário entre duas pessoas. Ao beijar, o corpo recolhe dados sobre o outro, muitas vezes sem que a consciência intervenha. Os lábios são uma das zonas mais sensíveis do corpo, o que torna o beijo numa forma eficaz de avaliar a atratividade física e química. E, como o olfato humano não é tão aguçado como o de outros animais, aproximar-se o suficiente para beijar é uma maneira de detetar feromonas e reações corporais subtis.


4. O cérebro em ação

Durante um beijo, o cérebro entra em modo de alta atividade. Libertam-se dopamina, serotonina e, em alguns casos, oxitocina — a chamada "hormona do vínculo". Embora estudos mostrem que os homens tendem a ter um aumento mais claro de oxitocina após beijar, o gesto continua a fortalecer a conexão emocional entre casais, independentemente do género. Além disso, beijar reduz o cortisol, o hormónio do stress, o que explica por que um simples beijo pode acalmar, animar ou reconectar.


5. Saúde: vantagens e cuidados

Beijar tem benefícios para a saúde imunitária: casais que se beijam com frequência tendem a partilhar microbiomas orais semelhantes, o que pode fortalecer a resistência a infeções. No entanto, o beijo também transmite vírus como o da constipação, o herpes labial ou até a mononucleose — a famosa "doença do beijo". A higiene oral torna-se, assim, uma forma de respeito mútuo.


6. Mais do que romance

Nem todos os beijos são românticos. Há beijos de despedida, de consolo, de celebração. Pais beijam filhos, amigos beijam amigos, e até os animais de estimação não escapam. O beijo é, acima de tudo, uma linguagem universal de afeto — simples, direta e profundamente humana.

Conclusão: se beijar é gratuito, faz bem ao corpo e à alma, e ajuda as relações a durar mais, talvez a melhor resposta à pergunta "por que é que os humanos se beijam?" seja esta: porque nos faz sentir vivos.

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