O que faz com que alguém se sinta atraído por outra pessoa? A resposta pode estar menos no coração e mais no cérebro — e nas reações invisíveis que acontecem dentro do corpo.

Há quem diga que a atração é imprevisível, um mistério do destino. Mas a ciência tem outras ideias. Longe de ser apenas uma questão de gostos pessoais ou de “química inexplicável”, a atração sexual é moldada por uma combinação de fatores biológicos, psicológicos e sociais que escapam muitas vezes à consciência. Descobrir o que realmente nos atrai pode ajudar a entender não só quem escolhemos, mas também por que razão o fazemos.
     
O corpo engana o cérebro
 
A atração começa antes de qualquer conversa. Em 1974, dois psicólogos realizaram um dos estudos mais curiosos da história da psicologia: o “estudo da Ponte do Amor”. Homens que atravessavam uma ponte suspensa alta e instável — com o coração acelerado pelo medo — eram abordados por uma mulher que lhes pedia para responder a um questionário. Depois, recebiam o número de telefone dela. Os resultados foram claros: os homens que tinham atravessado a ponte assustadora eram muito mais propensos a ligar. E muitos incluíram mensagens de teor sexual nas respostas.

O que aconteceu? O cérebro confundiu a adrenalina do medo com excitação romântica. Chamam-lhe “atribuição errada de excitação”. O corpo estava agitado, e a presença da mulher tornou-se o alvo da emoção. O mesmo fenómeno foi observado em pessoas que acabavam de sair de uma montanha-russa: julgavam os companheiros de assento mais atraentes do que antes da descida vertiginosa.

O cheiro que não nota, mas que sente     

O olfato é um dos sentidos mais subestimados na atração. Estudos mostram que as mulheres, por exemplo, preferem o cheiro de camisolas usadas por homens cujo sistema imunitário é geneticamente diferente do seu. É uma espécie de instinto evolutivo: corpos diferentes prometem descendência mais saudável.

E as feromonas? Apesar de ainda haver debate, acredita-se que estas substâncias químicas naturais influenciam a atração de forma subliminar. Não cheira a perfume, mas o corpo percebe. É como se o organismo dissesse: “Este cheiro faz sentido para mim.”

O que pensa importa mais do que imagina

A mente tem um papel tão grande quanto o corpo. O humor, por exemplo, é um fator decisivo. Se estiver de bom humor ao conhecer alguém, é provável que o ache atraente. É o efeito de “transbordamento emocional”: a alegria de uma boa notícia pode colar-se à pessoa que aparece logo a seguir.

Mas há mais. As pessoas tendem a sentir-se atraídas por quem partilha valores, estilos de vinculação e fases da vida semelhantes. Um estudo revelou que a atração aumenta quando conseguimos compreender as emoções do outro sem que ele precise explicar. É como se o cérebro dissesse: “Este é como eu. Não preciso de tradução.”

O prazer de conquistar  

Nem tudo é imediato. Um estudo curioso mostrou que as pessoas gostam mais de saber que conquistaram alguém. Descobrir que uma primeira impressão negativa se transformou em admiração é mais gratificante do que ser admirado desde o início. Por quê? Porque parece mais real. É como se o esforço validasse o valor.

O que pode controlar — e o que não pode

Não se pode escolher o cheiro do corpo ou o batimento cardíaco acelerado. Mas pode-se influenciar o contexto. A proximidade física, por exemplo, aumenta as hipóteses de atração — daí os namoros entre colegas ou vizinhos. A escassez também conta: no fim da noite, num bar prestes a fechar, todos parecem um pouco mais interessantes. É o “efeito do horário de fecho”.

Até a cultura molda o gosto. Em países com mais instabilidade de saúde, há uma preferência maior por traços masculinos. Em sociedades mais estáveis, os traços mais suaves ganham espaço. E as experiências familiares? Sim, influenciam. Quem cresceu com um pai presente e carinhoso pode associar masculinidade a segurança, não apenas a força.

A atração não é mágica. É um sistema complexo de sinais, reações e histórias. Compreendê-lo não tira o encanto — devolve o controle.

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